Recomendações

Recomendações sobre o “Desenvolvimento e Perspectivas Futuras da Hemorreologia”

A -  Áreas Potenciais de Acção a Desenvolver

1.    Difusão de conhecimentos entre os médicos, por:

  • Realização de cursos básicos para jovens médicos . Fomento de grupos de trabalho sobre áreas afins, inter-sociedades científicas.

2.    Estudos clínicos com novos fármacos com efeitos referidos na microcirculação, aterosclerose, trombogénese e hemorreologia, e desenvolvimento paralelo “in vitro”. É urgente o desenvolvimento de fármacos activos com indicação hemorreológica e clinicamente eficazes.

3.    Participação da hemorreologia no esclarecimento das situações circulatórias críticas em que exista remoção ou lesão do endotélio, com ou sem acidentes isquémicos ajusante. O recurso a próteses vasculares (homo-enxertos ou sintéticos) requer estudos de avaliação hemorreológica. São áreas de intervenção recomendada as seguintes:
(a)  Nas obstruções do tronco aórtico ou aorto-ilíaco, com recurso a próteses vasculares ou homo-enxertos.
(b)  Nos acidentes trombóticos como os isquémicos lacunares e a demência vascular.
(c)  Em todas as situações patológicas em que coexistam factores de risco cardiovascular e sinais inflamatórios crónicos.

B -  Meios Técnicos

É indispensável aferir metodologistas existentes e conseguir novos métodos de avaliação, com destaque para a microcirculação.
Recomenda-se para os estudos hemorreológicos:
(a)  Definição de indicadores laboratoriais credíveis para estudos em doentes ambulatórios e hospitalizados.
(b)  Padronização desses indicadores e métodos en­tre os diversos laboratórios de apoio creden­ciados.
(c)  Disponibilidade de indicadores laboratoriais de rotina para grande número de exames (ultrapassando a morosidade da maioria das técnicas actuais) e que facilitem estudos estudos multicêntricos. O estudo da microcirculação está limitado aos exames da retina. Há carência de metodologia específica para o estudo da microcirculação no restante organismo.

C -  Experimentação Animal

A experiência em animais de laboratório é considerada difícil, menos oportuna do que anteriormente e passível de conclusões não extensivas ao homem. A simulação experimental também não terá (pelo menos por enquanto) utilidade relevante.

Todavia, o estudo do comportamento dos microvasos em áreas acessíveis de alguns animais de laboratório será útil para verificar a acção dos agentes terapêuticos.

Do mesmo modo, a experimentação animal permite conclusões úteis em determinados processos reguladores da circulação, p. ex., nos mediados pela adenosina (como vasodilatador e anti-agregante plaquetário).

O modelo animal poderá ser útil para o desenvolvimento de metodologias específicas a aplicar no estudo da microcirculação humana.

D -  Estudos no Homem

O desenvolvimento e interesse clínico dos estudos hemorreológicos requerem:
(a)  Definição dos valores de controlo em indivíduos sem patologia aparente.
(b)  Definição do carácter multifactorial das manifestações hemorreológicas.
(c)  Definição do envolvimento hemorreológico na história natural de cada entidade patológica onde se verifiquem alterações consistentes.
(d)  Definição dos factores naturais (p. ex. qualidade de vida, composição dietética) influentes nos valores hemorreológicos entre populações diferentes.
(e) Definição de medidas terapêuticas (ou profilácticas) que, corrigindo as evitando as anomalias hemorreológicas específicas, melhorem a situação patológica.
Os grupos de controlo a seleccionar devem privilegiar indivíduos de sexo e idade comparáveis, e sem patologia aparente em exames de rotina. Os acompanhantes/familiares dos doentes são controlos potencialmente válidos, com a vantagem de provirem do mesmo meio ambiental e terem condições alimentares equivalentes.

E -  Análise Epidemiológica

É recomendado o desenvolvimento de estudos multicêntricos em áreas patológicas definidas (p. ex., hipertensão arterial. cardiopatia isquémica, doença arterial obstrutiva periférica) em populações portadoras de factores de risco declarado (p. ex. aumento frequente dos níveis de fibrinogénio) e em grupos de indivíduos sem qualquer patologia aparente.

Simultaneamente, é recomendado o acompanhamento de estudos internacionais equivalentes.

Os estudos epidemiológicos a desenvolver possibilitariam a definição de (i) factores de risco hemorreológico e pré-trombótico, a justificar intervenção sistemática, e de (ii) acções sinérgicas e antagónicas entre os factores de risco, clássicos e hemorreológicos.

Recomendações definidas em Grupo de Trabalho incluído no programa da VII Reunião da Sociedade Portuguesa de Hemorreologia. Participaram no Grupo de Trabalho os Professores J. Martins e Silva (moderador), A. Diniz da Gama, Carlota Saldanha, J. Alexandre Ribeiro. J. M. Ferro, Drs. Fátima Portugal. J. M. Vieira Barbas e V. Garcia Nunes (Lisboa, 15 de Dezembro de 1992).

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